Sei fazer rir como ninguém, me alimento do
descontrole que uma gargalhada provoca no outro, daquela coisa boa e que faz
faltar o ar. Sempre amei o circo, sempre tive medo dos palhaços e sendo assim,
só eu sei o quanto me dói perceber aqui, olhando meu reflexo nesse monitor o
quanto me pareço com um velho palhaço, poderia ser uma trapezista, uma
contorcionista não seria mal, mas não sou um palhaço.
Quanto de dor meu olhar reflete, aquele choro que
sempre está para acontecer, aquela lágrima que fica presa no canto do olho e que
ninguém é capaz de perceber. Meus ombros se curvam, minha voz é fraca e
embargada (lembra aquele choro?) e não satisfeita com o que as circunstâncias
fizeram na minha vida eu ainda me esforço para torna-la cada dia mais
miserável.
Alguns cultivam esperança, outros raiva, outros um
jardim, eu cultivo um pântano lamacento dentro de mim, um segredo sujo, que me
satisfaz de alguma maneira, só eu sei com quantas manias, quantas culpas,
autoflagelos, pensamentos sóbrios. Com quantos segredos se faz um pântano?
Quem olha, me vê mediana, Mariana, eu ali falando,
falando, falando, falo tanto que sofro diariamente de uma ressaca verborrágica,
sempre achando que errei a mão. Não acho que interajo, eu atuo.
Venha me ver: eu arrumo a bagunça, eu jogo essência
no fedor, eu troco de roupa, cubro as olheiras, eu invento, venha me ver que eu
consigo te entreter, eu conto boas histórias, eu tiro lições de vida e de
esperança, é só querer. Sou uma prostituta da positividade, tudo casca, “tudo pose” eu te entretenho e você sorri,
simples assim.
Você vai embora para casa pensando que a Mariana
pode não ser assim tão mediana, garota otimista e batalhadora, veja lá como ela
se vai com seus fones de ouvido, tão segura, eu faço com que você repense sua
vida, seus valores e escolhas, eu sou um sopro de ar fresco na sua vida.
Eu sigo meu caminho e tiro meu disfarce assim que
viro a esquina, volto para minha casa, tiro suas risadas da bolsa e uso como
combustível para queimar no meu pântano particular.
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