sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O CONCRETO

Pronto! Ela estava livre. Uma frase e tudo se materializa a sua volta. Genial.
Não vai ser como da primeira vez, nunca é, vai ser pior? Talvez, talvez seja apenas mais intenso, ela pensa em recuar, mas não tem como voltar, se concretizou.
E é desse concreto que ela tem medo, em todos os sentidos da palavra, se é que é possível entender o frio do concreto, nada descreve... Ah! sim o frio de um cadáver é bem semelhante, vejam vocês.
E agora ela não vai tremer ao tirar os sapatinhos de princesa na porta. Agora ela sabe o calçar nessas ocasiões, sabe para qual santo rezar, sabe fazer a vida acontecer, se adaptar, sabe dar seus pulos como dizem por aí.
Ela sabe melhor que qualquer homem que tamanho não importa, ela sabe que precisa mesmo é fortalecer a mente para não desabar. Ela sabe que se desabar naquele concreto vai ser o fim, então ela sabe que precisa também fortalecer o corpo, será que isso é um retrocesso, ela vai voltar a ser aquela selvagem estúpida?
Quem sabe?
Ela aposta no futuro.
Ela tem a certeza de que vai doer demais, outro daqueles machucados que só ela sabe como curar.
Uma manhã ela acordou e horas depois perdeu tudo o que tinha, no final esse tudo era nada mais nada menos que uma montanha de merda. Mas não é assim que se vive? Escolhas...
Agora ela sabe que é diferente, ela sabe quanto vai perder de tempo, sabe quanto vai perder de sono e quanto no final chorar no banho será o máximo de conforto.
Mas agora ela controla quando, como e onde.
E isso é liberdade.

sábado, 17 de agosto de 2013

AH! SE VOCÊ SOUBESSE...


O céu está colorido de um azul marinho que eu não via há muito tempo, algumas nuvens brancas passeiam pelo céu, tão lindo, tão melancólico.
Hoje caminhei até o centro, mas você não sabe disso, não ouviu o que eu disse. Ah! Se você escutasse o que eu digo saberia das maravilhas que eu vejo por aí, da poesia que eu observo nessas minhas andanças que me impedem de enlouquecer.
Se você ouvisse mais a minha voz (e não se trata aqui de gritar ou sussurrar) do que os apitos que suas máquinas produzem, saberia que a ciclovia tem um trecho que é um túnel escuro e assustador, sem iluminação e que mais parecia um cenário de um filme de Stephen King, saberia que eu passei por lá meio que correndinho. 
Saberia que as águas do rio aqui de perto de casa ficam tão negras durante esses dias que eu poderia admirá-las por horas e foi o que eu fiz. 
Caminhei e caminhei, muito frio batendo no rosto, me fazendo sentir todo o meu corpo vivo. 
Eu tenho a música, descobri hoje, com a música tudo parece mais fácil, melhor que qualquer comprimidinho que já tomei por aí.
Eu tenho cada dia conquistado um pedacinho de mim, sou cada dia mais fiel ao que idealizei aos cinco, seis anos. Essa sou eu, e você não percebeu isso, malditos apitinhos tecnológicos... fazer o que? Essa é sua onda agora.
Você não viu, meu querido, a minha cara de prazer ao conseguir um bom lugar no ônibus e poder fechar os olhos e separar mentalmente todos os instrumentos das minhas bandas favoritas. 
Você perdeu, eu não, eu me dei boas imagens para um sono tranquilo, melhor do que qualquer boa fotografia, o que fica em  minha retina é tão mais especial e você está perdendo porque perdeu a capacidade de ouvir.