domingo, 9 de agosto de 2015

O PRIMEIRO DIA DOS PAIS

Denis se tornou pai assim que o teste de farmácia deu positivo e depois desse dia não hesitou. Foi o pai que vai à todas as consultas e exames médicos,  mas não só isso, participou de todas as decisões e soube me respeitar como mulher e mãe.
Foi comigo em busca de uma parteira e se abriu para o desconhecido.
Foi o pai que escolheu ele mesmo as roupinhas e que curtiu cada minuto dos famosos chás de bebê da Barbara.
Ele foi o pai que fazia carinho, conversava com a barriga e que teve a sabedoria e a paciência de esperar pela chegada da filha. E nesse dia, no dia em que nasceu Barbarinha ele estava lá,  ao nosso lado, firme, aparentando calma e uma felicidade que eu nunca havia visto em seu rosto.
Foi o pai que cuidou da mim durante o resguardo, sozinho, cozinhando, me dando comida na boca, trocando a filha e segurando todas as barras do pós parto. Que não se nega em participar ativamente de tudo que diz respeito à nossa pequena.
Enfim, Barbara tem sorte em ter o Denis como pai e a mim resta a grata tarefa de observar com o coração cheio de amor, pai e filha, crescendo juntos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O PARTO DA BARBARA - RELATO TARDIO

Hoje escrevo esse relato com minha filha dormindo ao lado, no nosso “quarto de bebê – escritório”. Ela é serena, como dizem ela é a mestra, ela me mostra o caminho e ilumina.
Minha gravidez foi querida, curtida e desejada, fui uma grávida ativa, fui para faculdade, fiz trilha, vi o mar, andei, corri, rebolei no show do Ney Matogrosso, enfim... foram 42 duas semanas de felicidade, de descobertas e de curas.
Na última semana prevista para ela nascer, comecei a ficar realmente ansiosa, não tinha dor, estava um pouco mais cansada e a bebê mexendo muito como sempre. Na sexta feira a noite, comecei a sentir algumas dores, eram suportáveis e eu estava muito feliz, avisei meu marido Denis e disse que ele podia dormir, pois eu queria ficar sozinha, sentei na sala e fiquei na bola, quicando, pensando e sentindo a dor. Por mais que me esforce, não me lembro o que pensei, sei que fiquei umas três horas ali, até que as dores foram ficando fracas e eu resolvi dormir, ali eu lembro do meu marido me abraçando e uma sensação de paz.
Acordei no sábado sem dor e resolvemos limpar a casa, fui fazendo tudo mais devagar e parando para ficar na bola, no final do dia estava faminta! Resolvemos jantar em uma pizzaria, eu estava sem dor e lembro que comentamos que provavelmente aquele seria o último jantar apenas nós dois, voltamos para casa e nada da tal da dor, fiz brigadeiro e esperei.
Desse momento em diante nada mais é muito claro, depois de tanto flertar com dor, esperar pela dor, falar da dor, ela apareceu e veio forte, rápida, me arrebatou, ali tudo ficou completamente diferente, a dor vinha e eu simplesmente não tinha controle, me vi numa espiral de dor, alívio, dor, alívio. 
Acredito que o Denis chamou a parteira Camila e a doula que a acompanha a Leidi e também minha doula de coração, minha xará Mariana. Não vi nada disso, a dor me comia por dentro e as meninas foram chegando uma a uma durante a madrugada e eu tenho a lembrança de que tudo era feito em silêncio, de maneira quase sagrada, lembro de pensar: parecemos bruxas, todas nós, e esse pensamento me confortou. 
Eu e a dor travamos uma batalha durante toda a madrugada, já tinha dilatação total, precisava fazer força, mas ela não vinha, a dor me atacava e eu resistia, dizia que estava com medo, massagem, carinho, cuidados, chá, homeopatia, a coragem não aparecia, dor, medo, dor, medo. A bolsa não tinha rompido. Tentava dormir, precisava dormir, pensava no porque estava acontecendo tudo tão depressa. Quando eu vi que lá fora já era dia, me bateu o desespero, não ia conseguir, queria uma cesárea e acabou-se me dei por vencida, pedi para ir ao hospital, eu queria uma cesárea!
E esse pedido me paralisou, travei, o medo me deixou congelada, tanto que esse relato de parto parou nesse ponto e somente hoje, quase seis meses depois eu consigo retomá-lo e finalmente descrever o que aconteceu a partir do meu pedido pela cesárea. Afinal o que tinha acontecido com a minha coragem¿ 
Logo em seguida comecei a me arrumar, bota roupa, acha um sapato, a dor ali me massacrando, eu ouvindo de longe o Denis e a Leide procurando roupinhas para a bebê. Eu não havia feito mala para levar no hospital, eu tinha certeza absoluta que a Barbara nasceria em casa. Desci três andares de escada, rápida e rasteira, queria me livrar daquela dor.
Me despedi da parteira e da Leide e segui para o hospital com o Denis e a minha doula Mariana. Não lembro de muita coisa do caminho, lembro de chegar e de ser colocada em uma cadeira de rodas, subi de elevador e me mandaram colocar a roupa de hospital, fiz tudo que me pediram de forma rápida e mecânica, entrei na sala da médica com todos os exames do pré-natal possíveis, apesar de tudo era uma gestação tranquila e absolutamente sem riscos. 
O que se seguiu depois que entrei nessa sala pode ser definido como violento. Ponto. Eram dois médicos, uma mulher e um homem, nem um pouco dispostos a me ajudar, era Carnaval sabe¿ Olharam os exames e a médica sentenciou: “sua filha vai nascer com problemas, onde já se viu esperar tanto tempo!!! Não vai fazer cesárea, vai ser normal porque sua filha é muito pequena. ”
Pediu para me examinar e eu senti que ela estava tentando alguma coisa estranha, senti muita dor e ali agradeci toda a informação que obtive durante a gravidez. A médica estava tentando romper a bolsa, eu reagi e não deixei.
Depois disso foram quase quatro horas de muita briga, muita ameaça (inclusive a médica disse que chamaria a polícia para mim), o Denis e a Mariana iam se revezando e tentavam a todo custo me acalmar e evitar que alguém fizesse algo comigo. Tenho certeza de que se não estivesse acompanhada fariam coisas piores comigo. Ali o pior era o bate-boca com os médicos e a dor, a maldita dor...
A bolsa não rompia e eu não deixei ninguém romper, não conseguia fazer força e estava muito cansada de brigar. O Denis desceu para comer alguma coisa e a Mari entrou, e ali do meu lado, segurando minha mão rolou a mais forte sintonia entre mulheres. A Mari me olhou nos olhos e disse para eu parar de brigar, ela dizia bem firme: “olha pra mim Ma, olha só pra mim! ” Eu fui esquecendo dos outros e fazendo força e me reconectando com meu corpo. Fui fazendo força até que a bolsa rompeu. Eu e a Mari vibramos com aquele fuzuê de água. Ali os médicos, enfermeiros, todos desapareceram, se tornaram borrões. Éramos eu e a Mari. Fui para o centro cirúrgico e deitada naquela cama medieval eu pari a Barbara, gritando, xingando, urrando, segurando nos ferros. Amparada pelo Denis de um lado e pela Mari do outro.
Ela veio para os meus braços linda, forte e vigorosa, não chorou, só me olhou nos olhos. Me senti mulher como nunca, fêmea, forte, cheia de vida e felicidade. Bárbara Luz nasceu numa tarde de domingo de Carnaval, 15 de fevereiro de 2015, depois de quase 3 dias de trabalho de parto. 
 Ali eu tive certeza de que tinha feito a coisa certa. Os motivos do meu medo ou da minha decisão em ir ao hospital eu acho que nunca vou saber, sei lá a gente faz planos, mas eles são o que são, apenas planos. A vida mesmo é bem mais que isso, a vida é a gargalhada da minha filha.