Ficar sem dormir tem sido, para mim, o maior desafio da
maternidade. Não que a Bárbara não durma bem, ela até dorme algumas horas
seguidas a tarde e durante a noite acorda duas ou três vezes. O que acontece é
que nossas contas não batem. Eu chego da faculdade as onze da noite, ela dorme,
eu vou dormir meia noite, uma hora, ela acorda as duas para mamar, eu volto para
a cama e as cinco lá está ela de novo acordada, mama e dorme. As oito ela está
de pé e vamo que vamo!
Nessa dança de deita, levanta, amamenta, toma água, volta,
dorme, faz xixi eu não sei nem meu nome as duas da tarde. Nessa parte do dia,
eu estou driblando os grãos de arroz que ela deixou pelo caminho depois do
almoço. Quase todos os dias são assim, eles gostam de rotina e eu me viro em
dez para fazer tudo igual parecer divertido para ela e para mim também.
Eu ainda me admiro quando percebo o quanto essa entrega, de
ser mãe, pode ser doce e ao mesmo tempo doída. Me pego pensando, enquanto
amamento, sobre o futuro, o meu e o dela, e peço para o Universo que me permita
ficar ao lado da minha filha o máximo, sei lá, dê seus pulos aí Sr. Cosmos, que
eu quero ficar aqui. A vida que cresceu dentro de mim não me tirou nada, ela
veio para esse mundo e me deixou cheia de vida. Mas é uma jornada difícil,
porque é cansativa, solitária e cheia de inseguranças.
Maternidade para mim é caos, interno e externo, mudança
diária, saber agir, saber parar, rir e chorar, brigar e acalentar, me corrigir,
não comer, comer o que não gosta, é dor e prazer, risos intensos, um
quebra-cabeça que muda todos os dias e o coração que aguente, e ele aguenta
porque o que dá liga nessa aparente bagunça é o amor. Ele se espalha por esses
lugares onde nada faz sentido, onde o cansaço está impregnado e por mais que em
alguns dias sejam sombrios e cheios de dúvidas o amor aparece e fecha as contas
que não batem.
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