Na minha a dor é uma delas. E tudo que deriva dela também se torna
uma espécie de assombração vagando em looping dentro da minha alma. Não há o
que se possa fazer, não há exorcismo que seja bem sucedido.
Tudo que deriva da dor mancha minha alma, como pequenas
nódoas de café e eu não digo que isso é ruim, não poderia ser ingrata com a
dor. A dor da perda dos meus pais me encorajou a conhecê-los de verdade, como
seres humanos e com respeito de uma historiadora reconstruí meu passado e
descobri quem eu sou.
A dor de todas as violências que sofri me deram dimensão do
quão resistente é meu corpo e minha mente. O quanto de merda se pode aguentar
sem enlouquecer? Eu te digo que meu saco é ilimitado. E que pela dor não me tornei vítima.
E por fim, a dor foi meu único sentimento permitido durante
muito tempo, então tenho que lhe dar o crédito de me fazer sentir viva e de
certa forma mais humana. A dor não me permite arrependimentos, não me permite
parar. Eu não prefiro a morte eu prefiro a dor.
Existem pessoas que almejam esquecer a dor, eu já fui uma
delas. Hoje eu apenas a coloco em seu lugar, faço minhas assombrações dançarem
conforme a minha música.