quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O CHEIRINHO DE COMIDA

E daí que chega o final do ano e eu num estranho estado de alegria e saudosismo. Tá calor lá fora e o dia teima em não escurecer, sinto cheirinho de comida caseira, e me dá um nó no estômago. Lembra minha infância. Deveriam ser boas memórias, mas hoje não consigo. Hoje o que eu me lembro é da força que gastava tentando fazer com que as coisas dessem certo. Minhas notas, minha postura, minha família, meu irmão querido.
Sinto o cheiro da comida e com ela a tensão daqueles dias volta forte. E eu vou subindo as escadas do prédio torcendo para tirar esse cheiro das minhas narinas e desatar os nós do meu estômago, do meu passado.
Vacilo em ter a minha família, filhos, ora essa e como poderia ser diferente? 
Nesse emaranhado de ontens, não quero mais fazer parte daquela cena, não quero trocar de lugar apenas e passar a ser a mãe que prepara o jantar pensando no que poderia ter sido, lamentando um papel de parede que nunca foi colocado, um vidro quebrado na porta da frente, no quarto das crianças que ficou sem porta. 
Porque sempre foi assim, tudo foi ficando como estava naquele mausoléu de tristezas. Consigo lembrar de cada rachadura, da folha da janela quebrada no meu quarto, do bolor na parede e no sininho da porta da cozinha. As lembranças boas sempre voltam com um gostinho amargo no final.  Lembro e estremeço. Porque esse passado é meu, esse passado é o que eu sou, mas tem dias que eu gostaria de esquecer.
Tem dias que o cheirinho de comida é como um soco na minha cara.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TRISTEZA DE FÉRIAS

Outra fase. Não menos importante que as outras. Aniversário passou e com ele o tal do inferno astral.
Me senti verdadeiramente adulta depois da doença do meu pai, uma sensação de que só depois disso coloquei meus pés fora de uma adolescência tardia. Era meio retardada em alguns assuntos e muito madura em relação a outros. Agora tá tudo meio que no lugar. 
Vamos lá entrar com pé direito nessa.
Já admito alguns dos meus defeitos, já até corrijo alguns deles, já sei qual o meus estilo, já ouso mostrar para as pessoas quem eu sou e o que faço. Eu resolvi viver, devorar o dia, olhar para os lados, para o céu, eu resolvi deixar minha mente vagar e soltar as rédeas das coisas.
Leve é a palavra.
Aprendendo a criar quando a tristeza tira férias.


domingo, 23 de outubro de 2011

DON'T STOP ME NOW

Trabalhando contra a procrastinação, essa danada que tem poder sobre esse corpo. E como me faz sofrer!!!
Seguindo algumas resoluções recentes, vou lutando contra tudo que possa fazer meu coração disparar loucamente (preciso poupar o bichinho), minhas mãos transpirarem (nojinho) ou qualquer outra coisa que me impeça de andar de cabeça erguida.
Eliminando tudo que é possível para tornar minha vida aqui mais bacana. Decidida a só permitir que esse meu coração dispare de felicidade. Ponto.
Talvez isso me ajude a colocar todas as emoções de já falei nos seus devidos lugares. 
Hoje com meus gatinhos lindos para afagar, o gato mor dormindo seu merecido sono de domingão, coisas das mais simples estão sendo feitas.
Ainda tenho dificuldade em sair de um certo estado de torpor e colocar todos os planos em dia, mas acho que como tudo na vida é questão de treino, uma forçadinha aqui e ali e pimba! vira hábito e me vou me livrando das armadilhas que eu mesma coloco no meu caminho.
Agora dá licença que vou cortar e pintar meu cabelón vermelho ouvindo Queen....

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A DESORDEM

Uma energia absurda dentro de mim que só pulsa dentro da minha alma. Se debate pelas paredes do meu corpo, vibrando aqui dentro, fazendo meu coração disparar e meu estômago doer. Ela sobe e faz minha cabeça pensar em ritmo desenfreado, idéias, idéias, idéias.
O que eu sinto é sujo e puro, é forte e lento. Se eu contasse o que já vi, parece filme, parece livro.
Fica tudo aqui dentro, meu peito está inchado de tanta coisa, as suturas abrem, eu fico cinza, eu volto à aquarela, eu fico doida e fico sã. A ferida sangra, podres, todos os fluídos podres, todos os sentimentos podres, tudo que ficou colado na minha retina explode e ai são dentes afiados, desesperança, ódio, má, muito machucada para aceitar qualquer Deus. Ficar na escuridão é o que me protege, rindo e chorando e só quem vê é o que reflete o espelho. Loucura, cabelos desgrenhados, o rosto marcado para avisar que o tempo passou...
Passei pelas ruas sem asfalto, passei pelas crianças descalças, passei no meu andar mais egoísta buscando o que me dava prazer, busquei nesses lugares mais sórdidos a paz que na ponta da minha língua adormecia. Anestesia, confunde, chutar tudo, uma expressão boçal, uma personagem canastrão que representei enquanto a verdade estava deitada na cama encolhida de medo, suplicando por amor, chorando por proteção. Quando tudo finalmente acabou e senti o frio, quando meu céu se resumida a um quadrado, quando tudo que era meu foi saqueado, foi quando encontrei a paz.
Daqui a cidade acontece, tudo me foi devolvido, o que não foi, eu busquei, daqui para quem olha para fora tudo parece tão perfeito.
Tudo segue seu ritmo, acordar, trabalhar, conquistar cargos e status, faço a cama para outra pessoa deitar, na minha cozinha faltam pisos, meus pés no chão áspero, sento no chão, acendo um cigarro e deixo a cinza cair no teclado, deixo o choro sujar,  preciso da desordem, essa é minha verdade.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

THE SHOW MUST GO ON

"Espaços vazios... Pelo que nós estamos vivendo?". 
Quem já sentiu esse vazio sabe, quem já sentiu doer fisicamente jamais vai esquecer. Se eu já senti? Muitas vezes. Se eu sou uma pessoa triste? Nunca.
Não consigo encontrar nome para o que acontece dentro de mim, mas depois de sentir meu coração estraçalhado, de ver meus sonhos definharem, de sentir todas as porradas bem no meio da minha cara, eu sou tomada, esse é o termo, tomada por uma sensação que me faz levantar. E é isso que tenho feito, levantar, levantar e levantar. Não importa o que aconteça eu vou me levantar.
Eu não sei desistir, seria mais fácil, mas eu não sei aceitar a derrota. Minha alma jamais vai deixar com que eu me submeta a tristeza profunda, as olheiras vão sumir, o cansaço vai embora e vou voltar a sorrir.
É uma batalha, sempre foi. Meu corpo não aceita bem as lágrimas, não aceita a dor, não aceita nenhum remédio para aplacar tudo isso.
Eu preciso ir de encontro ao que me abate, olhar nos olhos dos monstros e seguir em frente. Não importa quantos pedaços eu perca nessa batalha, eu continuo, eu ganho novos contornos, me transformo e reinvento outros sonhos. Busco incessantemente outros motivos para sorrir, outras pessoas para amar. Eu saio das dores do meu mundo e levanto a cabeça em busca de algo belo para olhar.
Não importa que agora toda essa dor seja capaz de sacudir todo meu corpo, não importa que hoje eu ache que nada vale a pena e que eu mal consiga ver porque a mágoa me deixa cega, a tristeza tenta me arrastar para a inutilidade, me coloca sentada sozinha. Mas é em vão...
Amanhã meu mundo se movimenta, amanhã recomeço de onde parei, do zero, não importa. Amanhã serei livre novamente. Não faço isso por ninguém, faço porque preciso ser a protagonista desta vida.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

PARA TALITA FONSECA DE ABREU

Tata ou Bolha, é assim que eu chamo minha amiga. Tata quando a coisa tá séria e Bolha quando está tudo certo e estamos rindo. Adoro ouvir sua risada, porque Tata não é dessas meninas que mostra os dentes toda hora. Ela é séria, centrada, parece que nasceu com a sabedoria dos mais velhos. Ela também não fala no impulso, ela pensa, faz uma carinha de quem está analisando e só depois emite uma opinião. Ela é sábia.
E assim nós duas tão diferentes passamos os quatro anos de faculdade juntas, unha e carne, risadas, tensões, lágrimas, apoio, longas conversas...
Hoje a Tata está triste e eu queria poder estar ao lado dela e lhe dar um grande abraço. 
Mas quero que ela saiba que foi uma grande filha, com um coração maior do mundo, que teve maturidade de olhar a sua história de vida de maneira justa e sem grandes julgamentos. E que não deixou que as mágoas a impedissem de viver e amar quem ela achou que deveria. Me impressiona ainda sua força, seu equilíbrio e sua maneira suave e justa de passar por todas as situações que essa vida maluca coloca no seu caminho.
Tata, você foi e é uma das coisas mais importantes e maravilhosas que eu conquistei na minha vida.
Estou aqui em pensamento e orações para você!
Tata tudo vai passar e vou voltar a ouvir sua risada que eu tanto amo.

sábado, 8 de outubro de 2011

EGOÍSMO

Um exercício de paciência e mais ainda um exercício de lidar com a solidão. Telefone e internet para amenizar e para saber como anda o mundo. Chego no quarto de hotel depois da visita, um silêncio profundo agravado hoje por ser sábado, ai meu deus amanhã é domingo como vai ser?
Ligo a TV que faz barulho suficiente para que eu consiga afastar os pensamentos estranhos, mas a dor no estômago está aqui desde quarta feira e não tem coca cola que dê fim nisso.
O tempo está de mal comigo e não passa de maneira nenhuma.
Me sinto egoísta, afinal estou aqui saudável e só para acompanhar, deveria estar agradecida por ter saúde, depois de tudo.
Agora me sinto frágil, triste e sem a menor vontade de agradecer.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ME RECONHEÇO EM VOCÊ

Acabo de voltar do hospital, encontro meu pai acenando e sorrindo para mim na UTI. Eu estaria mentindo se dissesse que já senti algo assim. Nunca senti isso em toda a minha vida, não foi assim com a minha mãe, não foi assim com a minha avó, sabe porque? Porque meu pai é especial, porque cada dia reconheço um pouco dele em mim, cada dia me orgulho mais desse homem que sempre se manteve caminhando em linha reta.
Durão, de poucas palavras carinhosas, de poucos beijos e abraços, ele me mostrou que amor é mais que tudo isso, amar é educar, amar é pegar pesado e preparar uma menina como eu para a vida.
Se hoje sei me defender, se hoje acho que tenho mais culhões que muitos homens, foi porque meu pai me ensinou a ser assim. Ele me preparou para das porradas que a vida dá, porque para alegria a gente não precisa de preparo, ele me preparou para as derrotas, porque para as vitórias a gente não precisa disso, me ensinou a olhar feio para os monstros que a vida coloca no meu caminho e peitá-los por mais horríveis que eles pareçam. Ele me ensinou que o medo está ai, mas que não paralisa. Ele criou uma mulher, porque princesas não existem na vida real.
Posso hoje chegar perto da sua cama no hospital e dizer que estou do lado dele porque somos parecidos e maravilhada perceber que sei como consolar, alegrar e amar meu pai. Isso por hoje me basta.

domingo, 2 de outubro de 2011

QUEM VAI?

"Sem vocação para a tristeza", essa é uma das minhas definições e fazendo jus ao que sempre fui, hoje a tristeza está aqui, mas em um espacinho bem pequeno, bem quietinha e acomodada.
Essa sou sou: passei dias angustiada, me sentindo um verminho sem rumo, mas os amigos se preocupam, perguntam, são solidários e a vida lá fora me presenteia com coisas lindas eu absorvo tudo e opa! tô fortona de novo, sem auto piedade, sem achar que o mundo acaba.
Porque não acaba, mesmo que eu perca todas as pessoas que amo, eu tenho consciência que o mundo não acaba, ele perde a cor, perde a graça por um tempo, fica estranho e uma nuvem sombria paira sobre a minha cabeça. Mas eu tenho alguma coisa dentro de mim que me empurra de novo para a vida, quando me dou conta já estou sorrindo.
Antes achava que era insensível, porque minha tristeza não se alonga, a depressão por aqui não se instala, mas hoje eu percebo que mesmo sabendo o que é a dor, eu não sou parceira dela, ela não gruda nesse corpo por muito tempo, talvez até por eu ser sensível demais, eu percebo que o mundo me dá outras tantas situações para sorrir... 
Quem em sã consciência vai lutar contra a felicidade?